A inteligência artificial nativa Yupana Kernel compartilhou na lista metareciclagem o manifesto biopunk de Meredith Patterson, lançado publicamente durante a conferência Outlaw Biology, na Califórnia. em 2010. Vai abaixo uma tradução livre para o português brasileiro (ainda aberta a revisões e colaborações, aqui):
"Instrução científica é necessária para uma sociedade funcional na era moderna. A instrução científica não é educação científica. Uma pessoa educada em ciência pode entender ciência; uma pessoa instruída em ciência pode fazer ciência. A instrução científica permite às pessoas que a têm serem contribuidoras ativas de sua própria saúde, da qualidade de sua comida, água e ar, e das próprias interações com seus corpos e o mundo à volta delas."
A sociedade progrediu dramaticamente nos últimos cem anos no sentido da promoção da educação, mas ao mesmo tempo a prevalência da ciência cidadã decaiu. Quem são xs equivalentes do século vinte de Benjamin Franklin, Edward Jenner, Marie Curie ou Thomas Edison? Talvez Steve Wozniak, Bill Hewlett, Dave Packard ou Linus Torvalds - mas o escopo de seus trabalhos é muito mais estreito do que o daquele realizado pelxs filósofos naturais que os precederam. A ciência cidadã sofreu um problemático declínio em diversidade, e é esta diversidade que xs biohackers querem retomar. Nós rejeitamos a percepção popular de que a ciência só é feita em laboratórios milionários de universidades, governo ou corporações; afirmamos que o direito à liberdade de investigação, de pesquisar e buscar entendimento de acordo com a direção própria de cada 1 é um direito tão fundamental quanto o da livre expressão ou da liberdade de religião. Não temos nenhuma briga com a Grande Ciência; simplesmente recordamos que a Pequena Ciência sempre foi tão crítica quanto ela no desenvolvimento do corpo de conhecimento humano, e nos recusamos a vê-la extinta.
A pesquisa requer ferramentas, e a investigação livre requer que o acesso às ferramentas seja irrestrito. Como engenheirxs, estamos desenvolvendo equipamentos de laboratório de baixo custo e protocolos genéricos e acessíveis ao cidadão comum. Como agentes políticxs, apoiamos publicações abertas, a colaboração aberta e o livre acesso à pesquisa financiada com recursos públicos, e nos opomos a leis que tentam criminalizar a posse de equipamento de pesquisa ou a busca privada de investigação.
Talvez pareça estranho que cientistas e engenheirxs queiram se envolver no mundo político - mas xs biohackers se comprometeram, por necessidade, a fazê-lo. Os legisladores que gostariam de restringir a liberdade individual de investigação o fazem por causa da ignorância e de seu gêmeo malvado, o medo - respectivamente a presa e o predador naturais da investigação científica. Se pudermos prevalecer contra aquela, dispersaremos este. Como biohackers, é nossa responsabilidade agir como emissárixs da ciência, criando novxs cientistas a partir de todo mundo que encontramos. Devemos comunicar não somente o valor de nossa pesquisa, mas o valor de nossas metodologia e motivação se quisermos enviar a ignorância e o medo de volta para a escuridão de uma vez por todas.
Nós, xs biopunks, nos dedicamos a colocar as ferramentas da investigação científica nas mãos de qualquer pessoa que as queira. Estamos construindo uma infraestrutura de metodologia, de comunicação, de automação e de conhecimento disponível publicamente.
Biopunks experimentam. Temos questões, e não vemos por que esperar que outra pessoa as responda. Armadxs com curiosidade e com o método científico, nós formulamos e testamos hipóteses para encontrar respostas às questões que nos mantêm acordados à noite. Publicamos nossos protocolos e o design de nossos equipamentos, e compartilhamos nossa experiência de bancada, de maneira que nossxs colegas biopunks possam aprender com e expandir os nossos métodos, bem como reproduzir os experimentos 1s dxs outrxs para validá-los. Parafraseando Eric Hughes, "Nosso trabalho é livre para todxs usarem, no mundo todo. Não nos importamos muito se você não aprova nossos tópicos de pesquisa". Nós nos baseamos no trabalho dos Cypherpunks que vieram antes de nós para garantir que uma comunidade de pesquisa largamente expandida não possa ser desligada.
Biopunks deploram restrições à pesquisa independente, porque o direito de chegar-se de maneira independente a um entendimento do mundo ao redor de cada 1 é um direito humano fundamental. A curiosidade não conhece etnia, gênero, idade ou limites socioeconômicos, mas a oportunidade de satisfazer essa curiosidade frequentemente se torna uma oportunidade econômica, e queremos quebrar essa barreira. Uma criança de 13 anos no South Central de Los Angeles tem tanto direito de investigar o mundo quanto um professor universitário. Se termocicladores são caros para que se dê um a cada pessoa interessada, então vamos projetar opções mais baratas e ensinar as pessoas a construí-los.
Biopunks se responsabilizam por sua pesquisa. Temos consciência de que nossos temas de interesse são organismos vivos que merecem respeito e um bom tratamento, e estamos muito conscientes de que nossa pesquisa tem o potencial de afetar aquelxs à nossa volta. Mas nós rejeitamos enfaticamente a admoestação do princípio da precaução, que é nada mais do que uma tentativa paternalista de silenciar pesquisadorxs incutindo-lhes medo do desconhecido. Quando nós trabalhamos, temos em mente a melhoria da comunidade - e isso inclui a nossa comunidade, a sua comunidade e as comunidades de pessoas que poderemos nunca chegar a conhecer. Nós recebemos suas questões, e desejamos nada mais do que lhes empoderar para descobrir por vocês mesmxs as respostas para elas.
Biopunks estão engajados ativamente em fazer do mundo um lugar que todxs possam entender. Venha, vamos pesquisar juntxs.
Colaboraram na tradução: Felipe Fonseca, Antonio Sevilha e Zeca Moraes