Mapas são instrumentos de poder. Como já escrevi antes aqui, uma das perguntas que o Ubalab quer levantar é quem são os donos dos mapas? Existe uma questão importante quando alienamos totalmente o conhecimento de terreno para as autoridades ou, pior ainda, dependemos de um "presente" corporativo para nos situarmos geograficamente.
Pode até parecer uma questão menor dentro de toda a complexidade do debate sobre espaço público vs. espaço privado, mas me parece fundamental o entendimento de que os mapas geográficos deveriam ser públicos e livres para qualquer uso. Como acontece com todas as outras tecnologias, uma cada vez maior disponibilidade de mapas e coordenadas geográficas leva a transformações dúbias - multiplica as facilidades, mas gera dependência. Para garantir que essa dependência não seja sabotada, as alternativas livres são fundamentais.
O OSM (OpenStreetMap) é um sistema que se propõe a desenvolver um grande mapa colaborativo. Ele se baseia no trabalho voluntário de pessoas no mundo inteiro que se dispõem a coletar coordenadas e trilhas, desenhá-las no sistema e disponibilizar os mapas resultantes com licenças livres. A licença escolhida foi a CC-BY-SA, que permite que qualquer interessado possa utilizar, distribuir e remixar os mapas - inclusive para uso comercial - desde que mencione a fonte. Os mapas do OSM podem também ser incorporados e mashupeados em outros websites, como eu documentei aqui.
Quando comecei a pesquisar o assunto, vi que quase nada de Ubatuba está por lá. Das poucas ruas - somente no centro -, uns 2/3 fui eu que marquei, testando o sistema. Quem olhar o mapa de Ubatuba no OSM hoje pode ver como é (e se tudo der certo, quem ler esse post daqui a uns meses vai ver resultados diferentes).
O projeto Mapas Livres se propõe a dar suporte à comunidade OpenStreetMap no Brasil. Fiz uma proposta de parceria, e eles toparam me emprestar um GPS Logger, que facilita a coleta das coordenadas. O Ubalab vai começar mapeando o centro da cidade, provavelmente também captando imagens e identificando pontos de interesse. Com o tempo, vamos subindo os mapas para o OSM, e montar um site para publicar informações sobre os pontos de interesse. Vamos acabar subindo material também para os sistemas corporativos de mapas, por uma questão de massa crítica. No futuro, também é possível oferecer o banco de pontos de interesse para celulares, etc.
Mas não se trata só de desenhar o mapa e encontrar lugares/espaços. Existe um tipo de exploração aí que vai além da matriz de pontos que são as coordenadas geográficas. Para mim, existe um elemento de educação do olhar, de exploração sensível e construção de relacionamento com a cidade - independente do que cidade significa. Sair montado em uma bicicleta, marcando pontos, fazendo imagens e tomando impressões não deixa de ser uma maneira - mesmo silenciosa e quase tímida - de reivindicar as ruas.
O pessoal do i-Motirõ criou o site FIC - Fronteiras Imaginárias Culturais, onde estão subindo mapas conceituais e afetivos bem interessantes. E se a cartografia é um exercício de poder, existe quem proponha a descartografia. Parece que lá em Curitiba encontraram inclusive a Cachoeira dos Descartógrafos.