Daqui a pouco menos de dois meses, vou descer no meio do semiárido nordestino- mais precisamente em Sousa, interior da Paraíba - para participar da Cigac - Conferência Internacional em Gestão Ambiental Colaborativa. A localização dessa primeira edição não é casual: um dos objetivos é justamente entender como o sertão pode se beneficiar da reflexão, das práticas e das metodologias que a conferência vai agregar.
Estarei muito bem acompanhado, a começar pela equipe de organização. Concebida de forma aberta e enredada, a Cigac foi desde o início articulada em diálogo com a rede MetaReciclagem. Professores no campus Sousa da Universidade Federal de Campina Grande, o broda Orlando da Silva e Allan Sarmento propuseram a construção de um evento que explorasse pontos de convergência entre as práticas das ciências (e suas narrativas) e aquilo que no Brasil vem sendo chamado de "Tecnologia Social", dinamizado por práticas colaborativas em rede. Através da MetaReciclagem, um grupo de pessoas começou a orbitar em torno dessa construção e levou a ideia adiante.
Um dos princípios da Cigac é evitar o comportamento eufórico que em situações similares só faz reforçar a hierarquização entre "saber científico" e "conhecimento popular". Queremos entender como aquele campo que chama a si mesmo de ciência pode abrir um diálogo franco com os diferentes contextos que demandam o uso de conhecimento aplicado. Mas queremos também saber onde estão as brechas que a ciência não cobre (como Andres Burbano comentou aqui), e a partir daí desenvolver estratégias includentes para que esses espaços não sejam abandonados. A Cigac se orienta por esse processo de aproximação entre a academia, a sociedade, e também a arte - como campo de experimentação, construção de significados e formação de imaginário.
Eu confesso que sei quase nada sobre as disciplinas envolvidas na tal "gestão ambiental". Mas acredito que posso acrescentar alguma coisa no que diz respeito às práticas colaborativas e de criação de conexões de mútua influência entre bases distintas. Foi nesse sentido que insisti com a organização da Cigac sobre a importância de criar um eixo temático que acabamos chamando de "Experimentação Transdisciplinar", dedicado a temas - alguns novos, outros nem tanto - mais difíceis de enquadrar nas estruturas tradicionais, mas não por isso menos importantes. São eles: a ciência-arte, as tecnologias faça-você-mesmx, as redes de sensores interconectados, a ficção científica, a realidade digitalmente expandida, a internet das coisas, o biopunk e ciência de garagem, a inteligência artificial.
Já confirmados, três conferencistas em especial (e certamente mais alguns) trarão exemplos concretos de atuação nessas áreas: Karla Brunet, professora na UFBA; Tapio Makela, pesquisador e artista finlandês; e a artista polonesa residente em Londres Kasia Molga.
Até o momento, tanto o eixo temático transdisciplinar quanto a mostra de experimentos receberam poucas contribuições. Pode parecer estranho associar esses temas à gestão ambiental, mas eu tenho a impressão que eles podem ser justamente o que falta para dar mais tração e potência ao discurso da sustentabilidade - que não pode basear-se somente em uma visão do mundo como medições de recursos disponíveis, produtividade e desperdício. Então deixo aqui um pedido: teu trabalho ou ideia para experimento pode ter alguma relação com questões de meio ambiente, mas achas que te falta intimidade com a gestão ambiental para assumir isso? Não esquente não - eu também sou novato na área, e estou aqui levantando essa bandeira porque acho necessária. Envie sua contribuição até segunda-feira, dia 30 de abril!