Blog de efeefe

Ciência Comunitária

Publiquei esse texto no blog do Festival CulturaDigital.Br e na área Rede//Labs do Arquivo Vivo. É também a base do meu pré-projeto de pesquisa no mestrado na Unicamp que começo ano que vem.
Na última década e meia, a crescente disseminação de tecnologias de comunicação em rede propiciou o surgimento e a potencialização de novas formas de criação de conhecimento, com base em arranjos sociais distribuídos e colaborativos. Essa tendência é patente por exemplo no movimento do software livre que, se já existia desde antes da internet comercial, acabou por ganhar massa crítica uma vez que indivíduos e grupos puderam usar a rede para aprender uns com os outros, resolver problemas, explorar novas ideias e publicar código-fonte para ser livremente apropriado e modificado. O resultado foi o surgimento de ecossistemas informacionais autogeridos e baseados em uma emergente ética hacker, impulsionando a evolução colaborativa de conhecimento comum. A comunicação em rede levou também sua influência a outros campos: a desintermediação radical da produção cultural a partir da disponibilização de conteúdo com licenças livres orientadas à generosidade intelectual, a multiplicação dos espaços para debate público com os blogs e redes sociais, a disponibilização ampla de recursos didáticos multimídia, e assim por diante. Em todas essas áreas, ganha força um vocabulário com termos como "livre", "distribuído", "colaborativo", "autogerido".

Fortaleza

Mês passado, fui a Fortaleza a convite da prefeitura de lá para falar sobre "Cultura e Comunicação", em um dos seminários preparatórios para Conferência Municipal de Cultura que acontece agora em novembro. Eles já vão para a quarta edição da conferência, e conseguem assim avançar em discussões e abrir ao público assuntos que usualmente passam longe da sociedade. Deveriam ser um exemplo para todas as cidades.
Fui muito bem recebido, tanto pelo receptivo da prefeitura quanto por amigos. Depois de um almoço no belo Passeio Público Uirá me levou para conhecer o Cuca Che Guevara, onde Paulo Amoreira é um dos coordenadores (mas não estava lá naquela tarde). O Cuca é uma estrutura enorme - com laboratórios, estúdios, piscina, teatro e tudo mais. Lembra o tipo de coisa que se imaginava fazer com as BACs, antes do começo de tudo. Tem também ares do SESC de São Paulo, oferecendo aquele ar de clube pra quem não tem acesso. O Cuca fica em um lugar fantástico, de frente para a foz de um rio. Fiquei lá pensando qual é o sentido de construir o centro de convenções de Ubatuba tão longe do mar.

Passando o chapéu

Há alguns meses, concebemos um projeto chamado Experimentação pós-digital, que possibilitaria a criação de um laboratório, a manutenção de um site e a realização de três ciclos de produção experimental aqui em Ubatuba, ao longo de um ano. Inscrevemos o plano no mecanismo de incentivo fiscal do Ministério da Cultura (baseado na lei Rouanet) e o projeto foi aprovado na última reunião da CNIC. Agora é o momento de captar recursos. Não tenho nenhuma experiência prática com isso, então toda sugestão é bem-vinda. Alguém aí tem dicas?

Bienal do Mercosul

Aproveitei uma viagem à família em Porto Alegre para fazer uma visita rápida aos galpões do Cais do Porto, onde rola um pedaço da Bienal de Artes do Mercosul. Eu não tinha lido nada sobre essa edição da Bienal, e foi uma boa surpresa travar contato com o eixo Geopoéticas. Algumas brincadeiras interessantes por ali. Destaco "El Viaje Revolucionario", da argentina Alicia Herrero.

Do site da Bienal:

Herrero apresenta um projeto multidisciplinar que consiste em uma série de viagens através dos diversos rios da América do Sul. A artista considera esse projeto um “romance navegado”, no qual se equipara o processo do transcurso do rio com o próprio processo da escrita. O título do projeto inspira-se nos lendários diários de viagem de Ernesto Guevara, antes de converter-se no “Che”, que transitou pelos diversos cantos da América do Sul e descreveu, segundo Herrero, “o fictício das incertas e ilusórias nacionalidades da América”. No transcurso dessas viagens, realizadas de barco, lancha, ou barcaça, Herrero convida ao diálogo vários protagonistas, que, através de diferentes estruturas, compartilham suas reflexões em torno da cultura local. Nesse projeto, Herrero combina o rigor estrutural do romance, os elementos imprevisíveis dos rios e as conversas com os membros de comunidades que vão emergindo no seu caminho.